Infecção: A saga para remover um piercing que deu errado

23 de setembro de 2017 - Em , ,



Já faz uma semana que estou engolindo comprimidos alaranjados com aroma de pêssego de 6 em 6 horas. A premissa desses comprimidos é a de eliminar bactérias que estejam causando uma infecção localizada. No meu caso, muito provavelmente se trata de um microrganismo conhecido como Staphylococcus aureus, uma bactéria que vive tranquilamente na pele mas que, quando entra no corpo, pode causar vários problemas.

Essa desgraçadinha resolveu entrar no buraco do meu piercing, que eu já tinha há mais ou menos 6 meses, mas que estava ferido após bater a boca algumas vezes. Na verdade, eu já sabia que isso ia acabar mal por conta de 3 fatores:

1. O piercing nunca cicatrizava: Eu sei que demora pra piercing cicatrizar, mas de repente ele voltava a sangrar com uma facilidade que não dava pra entender — só depois eu entendi o porquê e explicarei mais a frente;
2. Eu nunca me dei bem com piercing: Retirei um no nostril (aba do nariz) por conta da formação de uma queloide e duas vezes no septo por infecções, mesmo cuidando bem;
3. Parecia que o piercing era ímã de batidas: Enroscava em uma blusa aqui, aí enroscava no cabelo do namorado, depois batia a boca na maçaneta da porta, depois levava uma na cara brincando de lutinha com o boy (sim, somos muito infantis)...

Resumindo, tinha tudo pra dar errado. E deu.

Em uma semana extremamente estressante, com entrega dos trabalhos da faculdade e provas vindo, minha imunidade abaixou e aconteceu: domingo de manhã, acordei com a boca tão inchada que eu sentia que ia explodir. Corri para o hospital, onde a médica me passou um antibiótico, anti-inflamatório e anti-histamínico. Pediu que, assim que desinchasse, eu fosse tirar o piercing. Foi triste, porque gostava bastante dele, mas aceitei sem problemas. Sempre soube que era questão de tempo até eu precisar tirar.

Comecei a tomar os medicamentos. No dia seguinte, o lábio já tinha desinchado uns 80% por fora, mas nada por dentro. Na parte interior da boca, não dava para ver a plaquinha de metal que tem no piercing para impedir que ele caia pra frente, o inchaço simplesmente tinha “engolido” essa parte da joia. Fiquei com medo, mas me acalmei porque, afinal de contas, ainda tinha muita coisa pra desinchar.

Três dias se passaram e nada de desinchar a parte de dentro. Na frente, estava tudo certo, parecia um piercing normal recém-furado (porque saia algumas secreções), mas nada demais. Por dentro, não havia nem sinal da plaquinha de metal. Fui no body piercer pedir uma ajuda, mas infelizemente ele não pode fazer nada: o corpo havia tentado expulsar a joia, fazendo ela ir pra frente e “enterrando” o piercing na carne. Numa tentativa do corpo se reparar, ele fechou a parte de trás, por cima da plaquinha de metal.

O estranho é que o próprio body piercer nunca tinha visto nenhuma situação assim. Claro, ele já tinha visto o inchaço comer o piercing, mas esse tipo de infecção, extrema, ele nunca tinha visto. A hipótese dele é que, na verdade, o furo acabou rompendo algum micro vaso sanguíneo local, o que criou o ambiente perfeito para infecções. Essa hipótese também explica o porquê de ele nunca cicatrizar e começar a sangrar repentinamente. Juntando isso com a queda da imunidade, só podia dar caca.

Saí do estúdio desconsertada, muito triste em ver que o meu caso não era de fácil resolução. Só havia uma alternativa: o bisturi.

Fui para o hospital, já com aquela sensação de que não era uma boa ideia porque médicos adoram falar mal de piercing, tatuagem e qualquer outra arte que faz parte do body modification. Após 1 hora esperando, fui atendida e a médica me disse que não podia fazer nada porque não haviam cirurgiões de plantão. Fiquei pê da vida e comecei a chorar. Ela achou que eu estava brava com ela, quando na verdade estava brava com a situação. Sei que ela era clínica geral e não tinha qualificação para fazer o que meu caso necessitava, mas não pude impedir de me sentir horrível só de pensar em voltar para casa com o raio de joia ainda na minha cara, impedindo que a infecção de resolvesse.

Meu namorado ficou igualmente puto e, por isso mesmo, resolveu não me levar para casa. Fomos para outro hospital no qual havia cirurgiões de plantão a noite inteira. Tive que explicar novamente toda a situação e consegui, finalmente, alguma perspectiva de que teria o corpo estranho removido ainda naquela noite.

Entregaram-me uma pulseirinha de cirurgia geral. Para muitos (inclusive meu namorado), este era o pior pesadelo. Para mim, o maior alívio de todos.



Fui chamada por um moço novinho, que me conduziu até uma sala e mediu meu pulso, pressão sanguínea e todos esses procedimentos básicos de hospital. Acredito que ele era um estagiário ou residente, porque a falta de experiência era bem óbvia, mas me senti em boas mãos mesmo assim. Fiquei feliz que ele deixou meu namorado me acompanhar. Caso contrário, certamente ficaria mil vezes mais ansiosa.

Depois disso, chegou o cirurgião. Após explicar toda a história (porque não basta explicar só pra balconista, tem que explicar também pra todo e qualquer médico que você encontra no caminho), ele disse que ia preparar os materiais. Era um homem bem humilde, não me julgou por um segundo e nem me culpou por tomar uma escolha errada, como ouço direto meus colegas me contando: “o médico foi um filho da puta, falou que eu merecia por ter feito isso com meu corpo”. Engraçado que, para cirurgia plástica, ninguém fala isso, né? Enfim.

Com os materiais todos preparados, ele chega e me diz: “Olha, tecido infeccionado é complicado, porque tem um pH mais ácido e a anestesia não pega direito. Pode doer um pouquinho”. Será que eu não tive um mini infarto?

Pois bem, ele aplicou a anestesia e ela fez o efeito esperado. Senti apenas a picada da agulha, o líquido entrando e depois a perda da sensibilidade. Quando ele cortou a pele para expor a plaquinha de metal, senti uma leve picadinha. Tendo exposto, ele não sabia muito bem o que fazer. Virou para meu namorado e disse: “Você tem mais experiência com piercing, consegue tirar pra mim?”.

Pra quem não sabe, meu namorado detesta hospital, médico, cirurgias, tudo que esteja relacionado a esse assunto. Só de ver o meu lábio inchado no início da infecção, quase desmaiou. No entanto, corajosamente, ele vestiu luvas e aceitou o desafio: colocou a mão na minha boca, ficou com as luvas todas machadas de sangue, tudo isso pra conseguir desrosquear o raio da bolina do piercing. Infelizmente, ele não conseguiu. Por ter muito medo de me machucar, ele não conseguiu aplicar a força necessária pra fazer a bolinha girar e desrosquear. Se estava doendo? Bem, a parte de fora não recebeu anestesia, então sim, doeu bastante.

Eis que o médico tentou. Piorou a dor em duas vezes, mas ele conseguiu tirar a bolinha. Foi uma festa na salinha: luvas ensanguentadas, piercing removido e risadas de alívio. Não foi feito ponto porque, por haver uma infecção, poderia formar um abscesso. O médico disse “pois é, realmente não tinha outro jeito. Havia formado 3 milímetros de pele, jamais daria pra tirar sem fazer uma incisão”.

Eu e meu namorado nos entrelhamos, nos comunicando com o olhar daquela maneira que os casais e melhores amigos fazem. Mesmo sem falar uma palvra, tenho certeza que nós dois pensamos “caralho, deu bosta meeesmo, rapaz!”.

Não demorou muito para que eu fosse liberada e saísse do hospital. No carro, menos de 30 minutos depois da cirurgia, a anestesia já tinha passado e eu sentia uma dor extremamente chata na parte interna do lábio. Com o piercing em mãos, fiquei cantarolando uma canção sem sentido, com uma melodia típica de final de filme. Eu e meu namorado ríamos da desgraça que foi o dia, ao passo em que estávamos aliviados de termos nos livrado do piercing demoníaco.

Agora, tem um buraco no meu rosto que está cicatrizando. Ainda está bem feio, mas acredito que ele vai ficar ok depois. Nada que tenha realmente estragado a minha beleza.

Quanto a anestesia ter passado rápido: eu não faço ideia de quanto tempo deve durar uma anestesia local, sei apenas que não era a primeira vez que seu efeito passava antes do esperado. Na primeira vez, ao remover umas verrugas que eu tinha nas pontas dos dedos, a anestesia passou antes do processo terminar. Na segunda, ao remover o dente do ciso, ela parou de funcionar no meio da operação. Fica aí a dúvida: será que meu corpo tem algum problema com a anestesia?

Não sei. Só sei que, independente de qualquer coisa, eu já sabia que eu vim a esse mundo pra sofrer.

Tomara que não tenha aranhas por aqui

15 de setembro de 2017 - Em , ,



“Quem é vivo, sempre aparece!” é algo que ouvi várias vezes recentemente. Talvez eu não ande sumida apenas da internet, mas da vida também. Confesso que estou numa fase na qual gostaria de deletar minhas redes sociais e dedicar minha vida ao prazer da meditação, mas infelizmente eu escolhi fazer uma gradução então, oras, devo arcar com as consequências.

Não tem sido fácil esses últimos tempos. Escrevi e apaguei inúmeras vezes. Tive mil e uma ideias mirabolantes para textos e até mesmo criei uma publicação no Medium pra compartilhar umas opiniões, mas não tem ido pra frente. Não porque não tenho leitores — na verdade, meio que tanto faz —, mas porque eu simplesmente não tenho tido tempo para elaborar de verdade tudo aquilo que tenho em mente.

Resolvi, no entanto, tirar as teias deste blog e escrever alguma coisa. Por que? Porque nem só de produção maravilhosa a gente vive: precisamos de um lugar pra falar umas belas bosta vez ou outra. Quem acompanha o blog sabe que ele é inteiramente pessoal e, por aqui, só tem atualizações de vez em quando falando que “ow, tô viva ainda, aconteceu isso esses tempos, não esqueçam de mim”. Foi só quando parei de fazer isso que percebi o quanto fazia falta.

Sinto-me morrendo um pouco todos os dias, não apenas pela faculdade ou pela exaustão mental após o trabalho, mas sim pelo medo que tem invadido meus pensamentos nos últimos tempos. Não me assustaria se, por acaso, meu psiquiatra me desse um diagnóstico de transtorno do pânico. Eu realmente tenho tido problemas com essa história de sair de casa.

Todo dia é uma graça e uma desgraça ao mesmo tempo. O clima de calor que tem feito em Curitiba nos últimos dias tem me animado, ao mesmo tempo em que sinto que a noite só traz decepção. Eu não tô mais sabendo lidar.

Por fim, algumas coisas que fiz durante esses tempos que passei sem dar as caras por aqui:

  • Adquiri um total de 8 tatuagens novas — farei um post sobre elas depois, caso alguém se interesse;
  • Mudei o turno da faculdade para a manhã. Achei que ia melhorar e, em certos aspectos, melhorou mesmo. Em outros, só piorou;
  • Passei a pegar carona com a minha sogra todos os dias para ir para a faculdade. Não consigo entender essa rivalidade entre noras e sogras. Nós nos damos tão bem que considero ela uma verdadeira amiga;
  • Tive que me desdobrar em várias para conseguir juntar os cacos das porradas emocionais que andei levando esses tempos, mas sigo em frente firme e forte (e na esperança de que, da próxima, o coração esmigalhe um pouquinho menos).
Tomara que vocês fiquem bem. ❤

Atualizando pra dizer que eu não morri #2

21 de junho de 2017 - Em

Que eu demoro pra aparecer por aqui, não é novidade. No entanto, mais um pouco e não haveria um post sequer no mês de junho, e passar um mês inteiro sem qualquer post é algo que eu definitivamente não quero que aconteça.

É difícil manter tudo na ativa o tempo todo. Com o trabalho, faculdade, namoro, família, mudanças e tudo mais, é óbvio que alguma coisa ia perder um pouco a atenção. Pena que foi o blog. Por isso, resolvi dar as caras por aqui só pra dizer que eu não morri. Eu já fiz isso antes aqui, ó.

Além de trabalhar e estudar, algumas coisas legais aconteceram na minha vida em junho. Já comecei o mês com momentos inesquecíveis no show do Silverstein, que veio a Curitiba juntamente com The Word Alive e For the Fallen Dreams. Confesso que a única que realmente conhecia era Silverstein e The Word Alive só tinha ouvido falar, mas resolvi aproveitar pra estudar o setlist de outros concertos da tour e ouvir melhor a banda. Fiquei louca pra ir por causa de Silverstein, enquanto meu namorado tava doido pra ver The Word Alive. Resolvi passar algumas semanas ouvindo quase que exclusivamente essas duas bandas (deixei For the Fallen Dreams em último plano por motivos de: não tinha me interessado tanto, risos) e, no dia 2 de junho, estava lá cantando junto (na medida do possível, pois não havia decorado letra alguma ainda), pulando, gritando e até mesmo chorando. Sim, chorando.

Silverstein é uma banda que eu costumava ouvir aos 15~16 anos, uma das épocas mais loucas da minha vida (adolescência, né) e, consequentemente, mais marcantes. Uma música do Silverstein, em específico, me emociona muito até hoje, e quando eles tocaram ela no show, eu simplesmente não pude conter minhas lágrimas. Pra quem quiser saber, a música é Smile in Your Sleep.

Menino Erico (aka meu namorado) também curtiu bastante e admito que talvez 30% da graça do show foi ter ele do meu lado, gritando e pulando junto comigo. Imaginem dois loucos na grade fazendo uma mistura de cantar junto, pular, conversar entre si e dar umas bitocas vez ou outra. Vocês podem ter uma ideia vaga de como foi, risos.

Tentei gravar alguma coisa mas, como estava perto do palco, tive bastante problema com o áudio, que acabou saindo estourado. Apenas um vídeo se salvou, da música Made this Way - The Word Alive:

Uma publicação compartilhada por Mary (@marythealkymist) em

Logo após esse show, no dia 3, teve mudança. Pois é, saí da casa onde cresci e me mudei para uma casa bem maior e mais moderna (com meus pais, óbviamente). Ainda estou me acostumando com a casa, achei que ia me adaptar mais cedo mas a verdade é que ainda sinto uma dorzinha no coração toda vez que passo na região da minha casa antiga — o que acontece com frequência devido a ela ficar bem no meio do caminho entre essa casa nova e meu trabalho. Mas não vou reclamar, estou gostanto bastante daqui, acho que é só questão de tempo pra que eu passe a ver essa vizinhança como minha, haha. Passei umas semans sem internet e dormindo no chão, mas isso a gente releva. E a maior vantagem de tudo isso? Estou morando a 1 quilômetro da casa do meu namorado. ❤

Por fim, o final do semestre está sendo uma loucura e estou me batendo bastante pra estudar pra todas as provas. Mesmo assim, tá chegando ao final e, até agora, tive muitas notas boas, então não vou reclamar. Nesse meio tempo, resolvi gastar minhas economias em maquiagem (porque né, adoro) e fui no tal do Atacado Stall, aqui em Curitiba. A primeira compra precisa ser de, no mínimo, 200 reais, então fui lá gastar duzentão em maquiagem e acessórios para maquiagem, e devo admitir que não me arrependo nem um pouco.

Estou bem feliz com as coisas que comprei, ao mesmo tempo em que acho que deveria ter gastado um tiquinho mais e comprado outras paradas que eu precisava (como pincéis de rosto e sombras mais coloridas), mas estou bem contente com o que tenho feito. Ando experimentando bastante em mim mesma e no meu namorado (fazer o quê? ele é o canvas perfeito!) e pretendo cada dia ficar melhor nas minhas "habilidades de mocinha".

Seguem ibagens (só uma, como sempre):


Tô vendo que vai virar tradição postar foto do boy maquiado toda vez que eu for atualizar pra dizer que tô viva. Erico que se prepare.

Bones e a desvalorização do nosso próprio trabalho

26 de maio de 2017 - Em , ,


Em primeiro lugar, gostaria de dizer que gosto muito do meu trabalho. De verdade. Gosto do ambiente, das pessoas, das tarefas que são de minha responsabilidade. Simplesmente tudo me agrada, e eu não poderia desejar um emprego melhor.

Porém, contudo, no entanto, todavia, tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, e as coisas já não parecem mais tão legais assim. O dia a dia é cansativo, de fato, e a rotina nos faz perceber nosso trabalho como uma série de etapas sem sentido. Começamos uma nova tarefa e nem sequer sabemos porquê estamos ali, fazendo aquilo. Já se tornou automático e rotineiro. Uma parte do dia a dia para a qual a gente não liga mais.

É aí a gente começa a se perguntar: o que diabos eu tô fazendo? Tem algum sentido nisso tudo? Por quê eu faço o que faço? Existe algum ganho na sociedade pelo meu trabalho? Será que eu realmente sou um bom trabalhador? Será que alguma coisa que eu faço tem algum valor?

Complicado. É tudo sempre complicado quando a gente para de ver as coisas como elas são e passa a vê-las pelo que o nosso costume nos faz achar. Só porque aquilo é rotineiro e, muitas vezes, mecânico, não significa que é sem valor.

Eu trabalho com marketing de conteúdo e minha principal tarefa é, basicamente, pesquisar muito sobre um assunto, pra escrever o melhor texto possível e sanar todas as dúvidas que as pessoas possam ter sobre o assunto. Esse não é um trabalho fácil, mas muitas vezes acabo caindo no bom e velho “eu não valho nada” pensando que tudo que eu faço é simplesmente copiar coisas que já existem por aí — o que não é bem verdade, uma vez que, apesar de eu precisar tirar as informações de algum lugar, meus textos acabam sendo únicos e não se encontra nada parecido em nenhum lugar. Modéstia a parte, eu arraso.

***

Graças às aulas de anatomia na faculdade, descobri uma nova paixão: osteologia. Pra quem não sabe, essa palavra significa “estudo dos ossos”. Percebi que eles são uma das coisas mais valiosas que nós temos no corpo e que, se não fossem eles, o resto do corpo não teria função alguma.

O fato é que: um dia estava eu feliz e saltitante (não necessariamente, pois me encontrava deitada em minha cama), procurando algo para assistir no Netflix. Eis que vi um tal de “Bones”. Pra quem não sabe, bones significa ossos. Como nessa época eu já estava apaixonada por osso (cada dia mais me sinto uma cadela, mas okay), resolvi dar um play.

A série fala sobre Temperance Brennan, uma antropóloga forense que busca solucionar crimes através dos restos mortais, geralmente os ossos. Bem intuitivo, né? Mas não estou aqui para falar da Temperance, e sim de sua colega de trabalho: Angela Montenegro.


Angela é uma artista, talvez a pessoa mais sensata da série inteira, que estuda os restos mortais e, junto com os dados providos pela Temperance, busca recriar os rostos das pessoas. Em um dado episódio, ela começa a questionar seu próprio trabalho. Passa a não ver tanto o valor daquilo, pois não é uma cientista, como todos os seus colegas de trabalho, e sim uma mera artista que foi parar ali pela ajuda de sua amiga.

A personagem passa por uma crise em relação ao seu trabalho e, no contexto da série, até mesmo de identidade, pois não se vê como tão colaborativa para a sociedade quanto os outros. Angela fica tão mal que cogita pedir as contas do instituto de pesquisa.

Conforme o episódio progride, coisas vão acontecendo (se quiserem saber, assistam, porque eu realmente não lembro) e, no final, ela fala com seu chefe sobre essa insatisfação. Eis que ela ouve o seguinte:
“You are the best of us, Miss Montenegro. You discern humanity in the wreck of a ruined human body. You give victims back their faces, their identities. You remind us all of why we're here in the first place - because we treasure human life.”
Enquanto ela mesma via seu trabalho como pouca bosta, o resto do time achava ele de extrema importância, porque era ela quem dava o caráter humano à tudo que era feito no instituto. Era ela quem, de fato, via a vítima, mesmo sob as ruínas da decomposição.

***

Talvez nem todo mundo tem o melhor trabalho do mundo. Certamente, muita gente faz muita coisa que não gosta. Mas uma coisa é fato: se o seu trabalho não valesse nada, ele não seria um trabalho. Ninguém pagaria pra não ter nada em troca. É assim que as coisas funcionam, é assim que o mundo roda.

Às vezes a gente não faz lá aquele mega trampo pra resolver um baita problemão, aquilo que vai salvar a empresa de qualquer crise, aquilo que vai inovar o mercado e jogar novas cores na tela da vida. Às vezes a gente só pesquisa, junta as informações importantes, e sana a dúvida de diversas pessoas.

Pouco tempo atrás meu namorado estava com uma dúvida e não encontrava a resposta em nenhum lugar. Até que, por fim, resolveu procurar no portal para o qual eu escrevo, e lá estava a resposta da dúvida dele. Se isso aconteceu tão perto de mim, imagina o quanto não acontece com outras pessoas?

O que eu escrevo, por mais que seja “automático”, por mais que não seja algo que um baita especialista escreveria, ajuda outras pessoas a entenderem melhor as coisas, a terem suas dúvidas tiradas, a dormirem bem à noite sem ficar com aquele ponto de interrogação enchendo o saco.

Nada que eu faço é, de fato, algo novo, mas é tão valioso quanto.

Sinto que a gente se desvaloriza demais. Que a gente se acostuma e acha que não é mais nada quando, pras outras pessoas, pode ser tudo. Não devemos nos esquecer nunca disso. Não vou dizer que a rotina vai deixar de ser rotina, que as coisas vão voltar a ser tão excitantes quanto eram antes, porque não vão. Mas creio que, mudando um pouco a maneira que a gente vê as coisas, nós mesmos podemos melhorar o nosso dia a dia, pelo menos um pouquinho que seja.

Quando foi que eu parei de ver meu trabalho como o que ele realmente é? Como é que eu faço pra recuperar essa visão e nunca mais deixar ela ir embora? Como que a gente faz pra voltar a se valorizar, a ver nosso trabalho como algo de valor? Não sei, talvez seja algo mais interno, talvez demore algum tempo. Ou talvez a gente só precise ouvir a descrição do nosso trabalho um profundo tom afro-americano.

Still here. Still standing!

11 de maio de 2017 - Em , ,



Alguém por aqui esses tempos? Não? Eu imaginava.

Quem esteve por aqui nos últimos dias, sabe que o blog não estava exatamente parado. Entretanto, mesmo assim, ele não ia muito bem. A parada tava tão pesada que tudo que escrevi no último mês foram desabafos nos quais eu falava sobre o meu estado de confusão mental e como, apesar de estar tudo certo e bonitinho, a minha cabeça insiste em ver minha vida como um edifício em tombamento a todo instante.

É claro que, depois de algum tempo, eu fiquei farta disso e procurei ajuda. Na espiritualidade, com a minha psicóloga, meu psiquiatra, todo mundo que poderia me ajudar. Até meu namorado foi meio terapeuta nesses últimos tempos, mas o fato é que pra namorar comigo, tem que ter um quê de terapeuta mesmo, então isso não é bem novidade.

O negócio é que, às vezes, a gente deixa os pensamentos atropelarem nossos sentimentos, deixa o mundo nos ditar o que fazer, deixa de viver e passa a tentar coexistir pacificamente com todo mundo. Mas não dá, sabe? Não dá mesmo. Conviver com outras pessoas é sinônimo de conflito, e ai de quem pensa o contrário.

Comecei a abrir a boca. Comecei a falar mais, emitir mais opiniões. Estaria eu, finalmente, me dando o devido valor? Seria este um sinal de que minha autoestima tinha melhorado? Ou eram apenas os gritos desesperados que já estavam na minha mente havia meses, saindo em forma de pequenos desabafos, opiniões singelas e pedidos simples?

Fico triste em pensar que, muito provavelmente, estamos falando dessa última opção. Isso porque, apesar de tudo, eu ainda me acho meio meh, meio nada demais, meio tanto faz. E não pensem que não estou trabalhando nisso, porque estou - quem me conhece sabe o tanto que progredi nesse quesito nos últimos dois anos -, mas isso não é o tipo de coisa que muda do dia pra noite. Assim como amar a outra pessoa, amar a si mesmo leva tempo. Tempo esse que, basicamente, eu não tenho de sobra, mas cá estamos, tentando.

Cada dia é um novo dia, e a cada pensamento ruim, um pensamento bom fala mais alto. Pra cada música que fala sobre suicídio na minha playlist do celular, há pelo menos uma falando que ei, tudo bem ficar mal, mas você vai ficar bem. Isso sem contar as porradas que dão aquela energia pra aguentar qualquer merda que a vida quiser empurrar pra mim.

Tem sido bem aos poucos, tem sido bem devagar. Mas eu tô seguindo em frente. Ainda estou aqui, ainda estou de pé.

Análise de Sistemas

5 de abril de 2017 - Em ,

Análise, do grego aná (para cima) + lýein (soltar, decompor), significa desfazer. Refere-se à quebra de algo grande em partes pequenas, a separação do todo em partes pequenas.


Lição de Anatomia do Dr. Willem van der Meer, Michiel Jansz van Mierevelt, 1617

Osso frontal. Parietal. Temporal. Occiptal. Esfenóide. Etmóide. Maxilas. Mandíbula. Zigomático. Atlas. Axis. Vértebras. Cervicais, torácicas e lombares. Esterno. Costelas. Verdadeiras, falsas e flutuantes. Sacro. Cóccix. Escápula. Clavícula. Úmero. Rádio. Ulna. Ossos do carpo. Metacarpo. Falanges. Proximais, medianas e distais. Ílio. Ísquio. Púbis. Fêmur. Tíbia. Fíbula. Patela. Ossos do tarso. Metatarso. Falanges. Calcâneo.

Sutura sagital. Sínfise intervertebral. Esterno-costais. Manúbrioesternal. Temporomandibular. Escápulo-umeral. Coxofemoral. Cotovelo. Joelho. Meniscos. Ligamentos cruzados. Radiocarpal. Ligamento anular do rádio. Carpometacárpica. Radioulnar proximal. Tíbiotársica. Tarsometatársica. Metacarpofalangeana. Metatarsofalangeana. Sínfise púbica. Sacro-ilíaca.

Orbicular do olho. Orbicular da boca. Masseter. Bucinador. Milo-hióideo. Esternocleidomastóideo. Peitoral maior. Oblíquo externo. Trapézio. Grande dorsal. Diafragma. Glúteo máximo. Bíceps braquial. Tríceps braquial. Flexores superficiais dos dedos. Flexor radial do carpo. Retináculo dos flexores. Extensores dos dedos. Retináculo dos extensores. Eminência tenar. Quadríceps femoral. Tibial anterior. Gastrocnêmio. Semitendínio. Tracto íliotibial.

Eu disse que era uma análise de sistemas, só não disse quais.

Atualizando pra dizer que eu não morri #1

1 de março de 2017 - Em ,

Já era hora de atualizar o blog e dizer que ei, colegas, eu não morri. Quem me acompanha sabe que eu não tenho um intervalo regular entre as postagens, mas imaginei que teria vindo aqui mais cedo e, no fim, não apareci. Não sinto que tenho muito o que falar, ao mesmo tempo em que tenho muitas novidades para contar. É muito estranho quando a gente para de ser sentimento e vira fato, mas isso não é uma coisa ruim. Enfim, espero que vocês, caros leitores, fiquem contentes em saber apenas algumas coisas que aconteceram comigo ultimamente.

Faz alguns meses que a minha cabeça parece ser feita de estresse, porque o tempo passa e as coisas são incertas, porque nunca se sabe o dia de amanhã e tudo que podemos fazer é rezar para que tudo fique bem. Digo rezar não num sentido religioso, mas pode ser assim também, se o leitor quiser. Enfim. É sempre muito bom quando a tempestade passa e você percebe que, mais uma vez, as coisas aconteceram da maneira certa, no tempo certo, exatamente como era pra ser. Não quero dizer, com isso, que está tudo resolvido. Longe disso, ainda há muita coisa por vir. Porém, ao analisar o curso da minha vida nos últimos tempos, não posso deixar de me sentir feliz, pois percebo que todo o meu esforço não foi em vão. Não até aqui e, independente do que aconteça, eles nunca terão sido em vão. ♥

Esses dias eu tive o melhor carnaval da minha vida, pra quem quer saber como eu passei de feriado. Eu estava realmente precisando viajar e descontrair, mas eu não esperava que seria tudo tão perfeito assim. No ano passado, fui para Prudentópolis, onde não havia carnaval e, justamente por isso, achei que tinha sido o melhor de todos. Porém, contudo, todavia, a vida sempre vem e nos supreende, às vezes com coisas ruins, outras com coisas boas. Esse ano, fui para Itapoá, em Santa Catarina, e meu pai alugou um apartamento na mesma rua onde ficava o palco principal das comemorações desse ano. Em outras circunstânceas, isso seria bem desagradável, mas não foi porque eu tive a melhor pessoa do mundo ao meu lado.

Foi a primeira vez que viajei com meu namorado (tirando as vezes que viajamos com a banda, claro), depois de termos planejado mais de quinhentas vezes uma viagem para a praia, e foi simplesmente a melhor viagem da minha vida. Superou até mesmo Prudentópolis. Acho que, pra ficar melhor, só se, no carnaval do ano que vem, nós formos para lá, passear na mata, escalar umas pedras e ouvir o som das cachoeiras. Essas são coisas pelas quais eu não sabia que nós dois tinhamos um amor em comum, até estarmos nos divertindo andando pelas pedras à beira mar.

Não sou de pular carnaval, mas não vejo problema em ir no local da folia dar uma olhada. Para minha surpresa, o carnaval de Itapoá é bem “família” e, por isso, foi bem agradável dar uma passada na festa e dançar um pouco com meu namorado que, na ocasião, era a mais bela moça de toda a cidade. Sim, ele se vestiu de mulher. Não, eu não tive que “obrigar”, haha. Havia tempos que eu falava pra ele que tinha interesse em maquiá-lo de um jeito bem feminino e ele nunca foi contra. Por isso, aproveitamos essa época pra experimentar esse look, risos. Confesso que não fizemos antes por pura preguiça. Como, dessa vez, havia um motivo plausível, nos empenhamos para torná-lo linda.

Seguem ibagens (só 1, no caso):


Te amo, bb.

Como nem tudo são flores, tive uma notícia bem ruim esses tempos. Meu coração se partiu em mil pedaços ao saber que não irei mais conviver com uma pessoa que gosto muito. Ela não morreu, nada disso, mas simplesmente não poderá mais frequentar os mesmos espaços e, por isso, ser tornará mais difícil vê-la. Porém, minha alma está cheia de desejos e energias positivas que estão constantemente sendo enviadas à essa pessoa, e eu só espero que ela encontre novos caminhos e tenha uma boa vida.

Talvez vocês não tenham percebido (sarcasmo), mas o design do blog tá bem padrão Blogger mesmo, porque eu simplesmente mandei tudo pra casa do carvalho. Sim, porque eu tô de saco cheio de nunca me contentar com as paradas que eu faço, e não adianta ninguém dizer que meus layouts são lindos porque o problema, infelizmente, é bem mais profundo que isso. Mas tudo bem, um dia eu abordo isso no consultório com a psicóloga e tento compreender um pouco mais. Ou não.

Outros pequenos detalhes dos últimos tempos que merecem destaque são:
  • Sinto-me com 16 anos novamente. Não porque ando fazendo cagada adoidado, mas porque ando ouvindo altos breakdown, uns pop e Beatles. Sim, Beatles. Don't ask.
  • Resolvi organizar minhas múscias no Spotify criando playlists para cada sentimento que elas invocam (ou seria evocam?) em mim. Muitas vezes a playslist tem diversas músicas de gêneros totalmente distintos, mas isso é porque resolvi classificar de acordo com as minhas emoções. Acho que eu nunca deixei de ser sentimento, no fim das contas.
  • Depois de muito tempo, viciei em Hotline Bling. Me lembra a uma época boa da minha vida, então acho que tudo bem.
  • Sexta, dia 3, é meu aniversário. I don't know about you, but I'm feeling 22.

Beijos pra quem só pula carnaval se for família. ;*

O Alkymist está morto*

11 de fevereiro de 2017 - Em , ,

Não quero voltar a ter um blog cujos assuntos dariam muito trabalho para escrever, só falar um monte de besteira como sempre faço. Achas que tens o que é preciso para esmagares os meus comentários? CLICA AQUI

Brincadeiras à parte, tenho a impressão de que o mundo deu uma volta completa desde o meu último post no Alkymist — que falava sobre eu querer estudar para passar em um curso concorrido no final do ano. Isso porque tive diversas dificuldades em casa que me fizeram sair correndo pra outro lugar, onde as coisas se tornaram mais confusas ainda e acabei me inscrevendo pra uma universidade particular.

Não tenho nada contra universidades particulares, inclusive sempre quis estudar em uma. Enquanto o sonho de todos é ir pra federal ou estadual, eu queria mesmo era ter que pagar por cada matéria. Sim, talvez eu seja um pouco masoquista, mas enfim. Descobri que a faculdade mais barata no curso que eu queria aqui também era uma das melhores do estado e não pensei duas vezes: vou lá.

Infelizmente não sei dizer quanto tempo vou conseguir ficar, uma vez que a faculdade custa dinheiro e dinheiro custa ganhar (inclusive, esse é o motivo de eu ter voltado pro Blogger, risos). Mas vou tentar ficar lá o máximo de tempo possível, porque em apenas uma semana, já me apaixonei por 90% dos meus professores (no sentido de gostar das aulas, não de ter crush neles, God, no) e sinto que estou, finalmente, fazendo algo que eu realmente quero.

Tenho a impressão de que tudo que conquistei na vida foram coisas que eu fui aceitando por não conseguir algo melhor. E, claro, nós temos mesmo que agarrar as oportunidades que chegam até nós, porém isso não quer dizer que não podemos correr atrás de nossos sonhos. Sim, eu demorei pra descobrir qual era o meu sonho — e a minha mania de sempre duvidar de mim mesma, das minhas capacidades e dos meus desejos não tem ajudado em nada —, mas agora que pareço estar vivendo ele, as dificuldades no meio do caminho não parecem me assustar tanto.

Devo agradecer à querida Shana que me ajudou muito nessa estória toda, tirando minhas dúvidas e me ajudando a planejar melhor como eu faria as coisas. Ela também me ajudou a perceber que eu não sou pouca bosta como sempre achei, e que sou perfeitamente capaz de correr atrás daquilo que quero. Obrigada, minha querida. ♥

Fora isso, não tenho muito mais para falar. Em breve ficarei bem ocupada com textos, trabalhos e as outras tarefas que a vida acadêmica implica e, quem sabe, eu não tenha muito tempo pra vir aqui. Muito provavelmente, a maior parte dos posts será de conteúdo pessoal e não aquilo que um dia eu havia planejado, mas isso não faz do meu blog menos importante.

Espero que compreendam e, caso não, o problema é de vocês.

Até mais.

* Pra quem não sabe, Alkymist era um blog onde eu falaria sobre história, filosofia, psicologia e altas paradas bem bacanas que me interessam e que iria tomar um tempo desgracento da minha vida.